Redes de pesca viram bolsinhas estilosas e reutilizáveis

Redes de pesca viram bolsinhas estilosas e reutilizáveis

Quem faz esportes aquáticos no Rio de Janeiro precisa, com alguma frequência, dividir espaço com resíduos de plásticos que boiam na superfície. Na região oceânica de Niterói o desconforto com a grande quantidade de lixo flutuante na Baía de Guanabara, principalmente em função das atividades de pesca, fez surgir uma iniciativa inovadora: as redinhas. Nascidas em agosto de 2020, são bolsas ecológicas produzidas de forma 100% artesanal com redes de pesca. O produto aumenta o ciclo de vida de quilos de redes que iriam parar no lixo, faz a economia circular e ainda substitui as sacolas plásticas de uso único. 

O projeto é idealizado pela engenheira ambiental Maria Fernanda Bastos, moradora de Niterói, praticante de canoagem e apaixonada pela beleza natural do Rio de Janeiro, vista a partir do outro lado da ponte. A engenheira passou a ter contato frequente com as questões que envolvem redução de lixo na Baía de Guanabara por conta do mestrado em gestão de recursos hídricos. Motivada em estudar e desenvolver algo que fosse útil para a sociedade, Maria teve a ideia das redinhas ao passar pela colônia de pescadores em Jurujuba e notar a quantidade de redes utilizadas que eram jogadas no lixo após perderem a serventia. 

“Para remar a gente passa por um volume imenso de redes e bateu aquela curiosidade de saber para onde ia todo aquele plástico. Virei a tia chata da redução de lixo”, brinca a engenheira.

E apesar das tentativas de conscientização e de todo esforço dos entusiastas das causas ambientais, a realidade ainda é de descarte incorreto e uma taxa de reuso e reciclagem baixíssima. Um relatório do Greenpeace divulgado no fim de 2019 mostra que cerca de 85% do lixo plástico encontrado no fundo do mar é composto por materiais de pesca como redes, linhas e armadilhas.

Maria Fernanda além de idealizadora é quem limpa e corta as redes para a produção das Redinhas.

Neste cenário, propostas como a Redinha fazem a diferença para estimular um consumo mais sustentável. Inicialmente pensadas para substituir os saquinhos plásticos para frutas e legumes, hoje, as bolsinhas de rede com acabamento em crochê são utilizadas com as mais diversas finalidades. Levar na mala de viagem, transportar embalagens de bebidas, usar na praia e carregar bolas de futevôlei são só algumas entre diversas possibilidades de uso. Parte do valor de venda vai para o pescador que fornece o material bruto e para as artesãs que confeccionam os acabamentos e dão forma à bolsa.  

Redinha para levar bola de futevôlei.

O sucesso foi tanto que diversas novidades já estão sendo implementadas ao projeto original como uma redinha específica para carregar bolas e uma edição praia, com alças largas e um bolso feito de retalhos para guardar miudezas. Em breve, uma nova linha com acabamento feito de revestimento de cadeiras de praia será lançada com foco nos esportistas e remadores que, entre um treino e outro, retiram lixos encontrados no mar. A inquietude diante da “naturalização” do lixo é o segredo.

“O lixo é uma invenção do homem, por isso, temos que parar de encarar como algo normal. Precisamos primeiro pensar em meios para não gerar e, depois, em como transformar tudo que já foi gerado. Já temos tanto material disponível, que às vezes falta apenas o estímulo e o olhar mais atento ao nosso redor”, conclui.

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